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terça-feira, 25 de maio de 2010

A tarde de 21 histórias



foto Rodrigo Terra

Fui convidada para ouvir histórias e dar minha colaboração para o processo das pessoas em formação.Em vinha de dias difíceis cheios daquelas coisas indissolúveis que agente vive. Aquelas coisas que nem muita água pode tornar mais leve e diluído. Eu estava precisando ouvir histórias. Ao todo 20! contadas em um tempo minúsculo ( 3 minutos cada)

Comigo na tarefa de dar devolutivas estava uma senhora bonita com olhos faiscantes.
Um desafio! Olhar ouvir com atenção e depois falar das coisas que vi-senti-pensei-percebi.
A senhora era generosa e tinha muita sabedoria. Percebi isso de cara pelo jeito como olhava.

Pra que ser o primeiro da fila?

Eram tantas pessoas, lugares, tantos processos. Pensei que cada um estava em uma parte de um caminho.Nem melhores nem piores alguns haviam andado um pouco mais e conquistado habilidades outros tinham o frescor absoluto do começo.Eram potencias e faltas. E de que adianta estar na frente? Se a vida é cheia de reveses e as vezes nos faz ficar muitas partidas sem jogar?



Foto Rodrigo Terra
menina pequena me olhando numa história do sesc pinheiros- olhos de caichinhos dourados


A Rainha e a menina

Algumas pessoas realmente impressionantes.Uma delas parecia uma rainha. Integrada bela com voz conciliadora aveludada e muito precisa.Ela contou cachinhos dourados.Disse que os ursos eram belíssimos. Vi ursos belíssimos. Seus olhos brilhavam ao falar da menina curiosa. Ela era uma rainha com uma caichinhos de ouro dentro.

Dormir no colo

Uma outra moça trouxe um livro que tinha sido da filha.Ao falar trouxe sua filha com ela é o livro tornou-se um objeto mágico.A casa sonolenta. Na medida em que eu ouvia descobri a casa sonolenta.Onde todos dormem. Pensei que dormir no colo de alguém é um ato desconfiança e que o livro falava de uma casa onde se pode baixar as guardas confiar, dormir no colo.

A verdade a mentira a beleza

Uma senhora esperou sua vez para primeiro desistir de tudo o que havia planejado. Contou uma história sobre a verdade e a mentira. Foi algo realmente impressionante. As duas trocam de roupas uma se passa pela outra e os homens sabem e toleram a bela verdade vestida de mentira por ser dura demais e a mentira vestida de verdade bela e fascinante como a ficção.

Lobo bom

Uma moça pequena e tímida contou com uma delicadeza incomum a verdadeira história dos 3 porquinhos.Contou de um jeito muito verossímil doce mas em nenhum momento infantilizada.Era comovente a maneira delicada com que existia.

Outra moça contou uma lenda estrangeira. História forte contada com sua voz rouca seu jeito invocado e corajoso extremamente cativante.

Mergulhos

Outra moça contou de suas netas e depois a história de Laura e seu pai e sua curiosidade sobre puns.Ela pulava de personagem em personagem estava tudo dentro dela! a menina o pai desconsertado o pai-menino a filha-grande. Todos! com maestria ela se divertia circulando entre os universos.Cada vez que entrava em um deles ia inteira num mergulho.

A moça tecelã. A história é linda. Mas bonito foi ver a moça contar. transformada pela história ali mesmo diante dos meus olhos.

Narradoras gigantes

O príncipe sem sonhos.A moça que contou essa também se transformou. A história era bonita de lascar.E na medida em que contava a narradora se dava conta e as palavras se agigantavam.


Uma moça mostrou que a firmeza cativa assegura faz sentir cuidado. Outra moça fez meta linguagem falou sobre contar e delicadamente agrupou pensamentos na nossa frente corajosa sem simular segurança. No tempo presente mesmo.Outra ainda foi se buscar com a história e reapareceu vigorosa contando.


Foto: meu pai
Eu aos 4 anos

Homem que chora

O único homem contou sua própria história. Me vi diante de um peixe grande ele e a história se misturavam. Ele havia se transformado através de seus encontros e me levou para as lembranças das vezes em que fui transformada pelas pessoas nas histórias.Depois conversamos.Ele me contou de sua neta. Ele me fez ter saudades.Das coisas de quando pequena. De pessoas, de sensações, de amores.Ele me transformou muito em pouquíssimo tempo.

Enfim muitas outras histórias das quais eu poderia falar por muito e muito tempo num poust gigante.

Sherasade

Enquanto eu e bonita senhora ouvíamos, ela contou uma história de uma menina que as histórias trouxeram pra ela. Percebi que estava diante da Sherasade que conta histórias para esquecer o quanto é curta nossa existência.E quem de nós não faz assim?

Foi como um grande alongamento de escuta e visão. Me deu vontade de dar outro curso e nele só ouvir e ver sentir perceber devolver.Foi uma tarde intensa. Para não esquecer mas.


foto Felipe Torres Abraço

Depois de hoje penso que sim todas as pessoas podem contar histórias basta querer desenvolver isso. Se bom ou ruim para que mesmo estar na frente na fila? todo lugar é bom por que é o seu.

beijo com coração transbordante e obrigada a todas essas pessoas
Kiara

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Os espaços vazios


Foto Rodrigo terra
Meus instrumentos de trabalho


Hoje aconteceu uma coisa curiosa, me deu vontade de escrever aqui. Não é um relato de história nem um convite. É um fragmento um pequeno encontro.Eu estava chegando a livraria da vila para uma reunião de um trabalho sobre o tempo. Chama-se linhas de fronteira.

Eis que encontro uma moça que fez um curso de psicanálise comigo no ano passado. Minha curiosidade pela psicanálise vem das histórias. É sempre muito revelador para mim.

Ela me reconheceu, parou perto de mim me chamou pelo nome ( que vergonha, não lembro o nome dela) e me falou de uma colocação minha em aula. Falou que se lembrava que a imagem era muito nítida e que era para eu registrar de alguma forma.

Lembrei depois dela da aula, sobre o inconsciente. Como lidamos com as faltas mais intensas e estruturais? Seriam buracos? Espaços vazios?

Naquele dia falei que me pareciam como espaços em um croché. Espaços cercados de conexões, linhas que se cruzam formando outros desenhos. Ali estavam as faltas. Nos espaços nem cheios, nem vazios ligadas a todo resto impossível de serem cerzidas.

Bom aqui está a imagem descrita um ano seguinte a aula.
Acho que as histórias tocam um pouco essas lacunas.

sábado, 22 de maio de 2010

Escuta - Esperar reverberar


Foto Rodrigo Terra
Ele vê a História pelo seu telescópio

Ouvir com atenção. Estar permeável para escutar e permanecer em silêncio pelos próximos 3 segundos. Nesse tempo a pergunta ( ou a imagem ou a coisa percebida)reverbera.

Esse tem sido o meu exercício. Muitas vezes não consigo esperar até responder. Hoje na história da cia das letrinhas ( Histórias à brasileira 4 de Ana Maria Machado) encontrei Matheus um menino de uns 4,5 anos com uma mente realmente primorosa!Primeiro perguntava : "E o que vem depois ?" Na sequência olhava com
olhos risonhos e despejava ideias realmente incríveis coerentes.

E ainda Havia duas fileiras à frente uma menina grande que conduzia a narrativa com maestria ( parecia conhecer a história). Zelava pela sequência de ações e repetições tão importantes para a estrutura do conto.


Passei parte do tempo me surpreendendo e alinhavando os dois. A outra parte do tempo me senti regendo uma orquestra inteira com dois solos.

Só pedi silêncio diante de uma ideia tímida e nítida dita baixinho. Uma ideia que esperava dentro do Gabriel. Esperava a hora certa. E veio.


Foto Felipe Torres
Gabriel no lançamento do meu livro ano passado

A princesa revela sua mentira : Enganou o rei. A verdade é que não sabia tecer. As crianças estavam impiedosas queriam um castigo. Perguntei E quem já enganou a si próprio? Nem assim.

Foi quando Gabriel que esperava o momento diz :O príncipe falou pra ela querida você pode não saber tecer mais sabe desfazer os nós. O amor estava à salvo.

Gabriel desfez o nó com sua ideia tímida e nítida. Soube ouvir e deixar reverberar.

quarta-feira, 19 de maio de 2010