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sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Improvisação amor partido alto

Sim. Eu ligo amor, improvisação, partido alto, presença.


Vou tentar explicar. No amor agente não sabe qual a ultima palavra até que se tenha chegado ao fim da frase. Assim como não sabemos que palavra rirá quando na ultima frase vem a rima. A improvisação, o amor, o partido alto são coisas que - para encontrarem plenitude - precisam de entrega e presença. O desafio de mover-se.Ou como diz um menino precioso que conheci nas histórias jogar-se.



Foto Rodrigo Terra
Temporada sesc pompéia 2010

Ah! Deixa eu tentar de novo.

Vou começar pelo mais difícil. O Amor. Amar e ser amado. Poder amar alguém é um privilégio. Sentir a vida entrar pelos poros. E quase tudo tem musica. E tanta coisa faz sentido. É como cuidar de um lugar dentro de si. Mergulhar. É bonito em si. (E claro que é melhor se for correspondido).



Foto Rodrigo Terra
Foto temporada sesc pompéia 2010

Mas sinto que é como dançar. Para acontecer precisa de certo desequilíbrio próprio do movimento. Se tudo está parado estático estável não tem dança. Entende? Mas dá medo por que esse mover-se, esse espaço dentro, revela a geografia das nossas faltas. Nossas saudades de criança. Nossas noites de medo solitário no quarto. E tantas outras sensações. Nossa sede de ser amado, de ser olhado, ouvido, de ser importante de ter a beleza reconhecida. Ser amado faz existir. É algo que concede calor, vitalidade, impulso, vento e perfume.


E o movimento aproxima nossas faltas. E um medo grande vem. De tudo não ser. De falhar, de não vir nada quando precisarmos, de um branco, de um esvaziamento. De deixar de existir. Como na improvisação, o movimento, a entrega de esperar vir para falar. Dá vontade de se preparar pra ser irretocável. Mas sem margem para o erro só há o estático, não há dança, não há mover-se, não se versa.




Foto Rodrigo Terra
Foto temporada sesc pompéia 2010

Então no amor, no partido alto, na improvisação, na dança estamos falando das faltas. Dos espaços vazios, das perguntas sem respostas. Daquele sentido maior que chamamos verdade. E que agente não alcança mesmo. E só o que podemos fazer é cantar a falta, dançar as saudades, improvisar as histórias de amor. Versar com coragem como quem revela um segredo “ viver é impreciso e eu vim assim vestido em minhas faltas versar ( improvisar, amar)”.


É mesmo contraditório. Tem que conseguir olhar as faltas, aprender a brincar, jogar bola sozinho, ensaiar. Mas é diante do outro que a mágica acontece. E eu penso que diante do outro nossas faltas são um grande pote, uma piscina, um côncavo. Um vazio que quando mostrado mesmo indiretamente pela qualidade da ação, no caso versar. Ativa no outro a capacidade de amar, de mover-se, de mudar de lugar. Empatia. Eu também tenho faltas, eu também sinto medo de não ser.

Daí, nessa hora todo mundo deu a mão ( pense na platéia de uma história) a vida ainda está lá implacável, imprevisível, mas as pessoas estão juntas nas suas faltas compartilhadas e na capacidade de amor e presença que carregam por dentro de si.


Foto Rodrigo Terra
Oficina Joseph Beuys

Não há como preencher uma falta sempre. A falta nos constitui e pode permitir movimento, ação. Da falta vem o verso do outro, vem o cantar junto. Isso produz um sentido de comunhão que faz valer a pena estar na vida mesmo ela assim sem garantias.


Ser amado é bom. Sim, quente e macio. Um abraço. Um presente. Largar um pouco as proteções e ficar quieto no lugar protegido dentro do amor do outro. Com vento. Caminhar junto mostrando as fragilidades e fazendo com elas um vinculo. Sabe que vinculo = brinco= brincar. Então brincamos com nossas faltas falando sério. Dançamos com as palavras.Versamos um pouco. Acho que no fundo amar versar improvisar são da mesma natureza.