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quinta-feira, 24 de março de 2011

Todo mundo sabe dormir? Das despedidas

Participei essa semana de um programa da Record. Convite feito. Pensei Será?Resolvi dizer sim quando a jornalista disse é sobre um menino que não dorme e sobre sua mãe.

Então fui e encontrei a Barbarae o Kassen.Ela com olhos brilhantes e um amor de ver assim fácil. Largo e inteiro. Ele um menino de quase 2 anos curiosíssimo e doce que logo chega perto e observa a gente nos dando a chance de sermos irremediavelmente o que somos por que ele nos olhou de verdade e logo.

Conversei com Barbara li uma história chamada " Algum dia" e levei alguns livros " um Burrinho Grande" "Bons sonhos Rosa" " adivinha quanto eu te amo".

Veja a matéria

http://noticias.r7.com/blogs/chris-flores/2011/03/21/o-que-fazer-quando-a-crianca-nao-dorme/

Depois vi o programa e fiquei feliz por ter ido. Por te-los encontrado.Principalmente por perceber minhas palavras reverberando na Barbara.Senti saudades deles como se os conhecesse faz tempo.

E me deu uma vontade grande de compartilhar pensamentos que vieram desse encontro.Escrevi esse texto aqui em baixo:

 
Foto Rodrigo Terra

Despedida

Venho pra escrever do que não sei.Não sei me despedir. Não gosto sequer de dizer tchau ao telefone. Fico silenciosa esperando a pessoa dizer tchau e só então eu desligo.

Quando vi Barbara e Kassen o amor era muito grande.Ela era seu ninho.Um lugar para voltar.Ela o abrigou e agora ele estava crescido.Era bonito e em seus olhos havia a descoberta das pequenas coisas. Todas as coisas. Ele queria tocar com a ponta dos dedos.Ela o assistia com orgulho compartilhava seu tempo seu corpo seu olhar e a escuta cristalina de quando agente ama muito e quer ser uma casa ensolarada e fresca.Ela era.

Então a noite sempre chegava depois dos dias juntos.Era hora de ir.Ele sozinho. Ela sozinha.Ele deitava no lençol macio com a cor dos saltos do dia e a sensação do balanço no jardim e o colo dela.O abrigo delicioso de caber no colo dela, seu olhar de amor, surpresa e encantada por ele estar ali. Por ele ser ele.Ele buscava por ela à noite sempre.

Ela sozinha. Onde estariam seus pensamentos?. Nele no outro quarto talvez. Ela se desacostumou a estar só.É que o dia corria como um rio. Em uma só direção e nadavam juntos desde que ele nasceu. Antes disso até. Quando ele estava no seu desejo de ser mãe.

Foto Rodrigo Terra

E a noite não podia continuar o dia.Á noite tudo está escuro e o rio que corre tem outras corres outros sons. Era preciso fazer uma despedida.Eu não sei me despedir mas sei perceber quando é preciso e sempre tento uma duas tantas vezes. Chamei a Barbara e falei pra ela sobre se despedir.Ela me olhou silenciosa de olhos molhados. Queria-e-não-queria se despedir de seu pequeno menino grande.Já sentia nascer nele algo maior capaz de fazê-lo experimentar novas coisas. Sentia entre os dedos o tempo de passagem.

Ser é transitório.Um vir a ser iminente mora dentro e logo chega transformando tudo ao redor.Minha amiga Tania uma vez disse que ela perdia os olhos do filho e ao olhar de novo ele era outro. Barbara havia perdido os olhos de si e agora ela era outra.Precisava ouvir os ruídos dos sonhos de quem ela se tornaria depois de abrigar Kassen.E confiar que sua presença estaria pra sempre nele na forma da mais forte confiança de todas. Da de ser importante.Ser amado.Mesmo quando caminhasse só.

Dormir é uma despedida. Fechar os olhos não continua a claridade do quarto.Ouvir o coração e deixar ser. Desistir da vigília.E deixar serem as lembranças do dia os pensamentos menos lineares as histórias de sonhar.

É preciso deixar ir. Soltar as mãos. Deitar as coisas vividas e saber ser só outra vez.Quando só o que aquece é a presença silenciosa do amor que recebemos e que está nos nossos olhos nas costas e nas mãos e no desejo de ir.


10 comentários:

Anônimo disse...

lindo lindo demais, querida!
você é um ser prá lá de especial, prá lá de encantada!
obrigada por ser e por estar também em nossas vidas. Minha e do meu menino que agora sabe se despedir durante a noite!
amamos kiara terra
elly&caetano

Rosana disse...

Lindo Kiara, suas palavras são tão suaves e fortes ao mesmo tempo.
Preciso levar o Lucas para te ver contando histórias! Beijo

Anônimo disse...

Kiara,

Vc é uma pessoa encantadora e suas palavras tocam fundo em nossos corações.

Obrigada pelo carinho, gostei muito de te conhecer, uma pessoa pra la de especial!!

Beijos e fiquem com Deus

Barbrinha

Unknown disse...

Oi Kiara, muito legal esse post. A minha filha gosta de ouvir as suas histórias.
Tenho um blog cultural. Dê uma passada por lá também e deixe a sua opinião.

Beijos.

Meri

Unknown disse...

kiara
Como foram maravilhosasas suas palavras!! Minhas lágrimas também vieram, vi a reportagem, me identifiquei muito c ela, meu bebê é muito ativo, ainda mama mas agora fiz o desmame noturno, após a terceira noite eu consegui, depois de quase dois anos dormir 6h seguidas, obrigada e PARABÉNS!! Seu trabalho é maravilhoso!

Fernanda Mouco disse...

Maravilhoso, Kiara, quanta sensibilidade!
Beijos com admiração.

Flávia Veríssimo disse...

Puxa que saudades Kiara! Sinto saudades suas como se fóssemos amigas. Por onde andas contando histórias. Meus filhos já adolesceram mas creio que eles continuam gostando de te ouvir.
Queria fazer um curso com você!
Sou psicanalista e atendo crianças.
Aliás lendo seus textos acho que você também é!! Bjão

Josie disse...

Oi Kiara!
Muito obrigada!
Esperei seu post pela indicação doa livros e me deparei com um deleite pra minha alma que se prepara para encontrar e um dia se despedir das fases da minha pequena- que ainda estou gerando!
Lindas palavras de um coração imenso!
Prazer em conhecê-la, mesmo que virtualmente!
Bjs

Renata Truffa disse...

Que lindo! Vc é uma mulher multi-talentosa...escreve lindamente. É muito gostoso sentir a sua sensiblidade através das palavras que vc escolhe e acolhe.

Silvia disse...

O texto é lindo mesmo, de uma poesia que só.

Mas preciso confessar: não vejo mal em uma criança tão pequena, mais pra bebê do que criança, ter necessidade dessa proximidade com os pais. A criação com apego (attachment parenting) ensina que podemos, sim, acolher essa necessidade que os pequenos têm de estar perto, e que, quando acolhidos, eles naturalmente seguem o caminho da independência quando chega a hora.

A cama compartilhada, ou até um colchão no chão do quarto dos pais, pode fazer maravilhas pela criança e pelo casal, permitindo que todos durmam mais horas seguidas.

Eu recomendo! :-)

E, não, as crianças não ficam dependentes. Tenho duas meninas (10 e 8) que dormiram em cama/quarto compartilhado quando pequenas, e que hoje são muito independentes e sociáveis.